Os Simple Plan lançaram ontem, dia 3 de dezembro, um EP de sete canções intitulado "Get Your Heart On - The Second Coming!". Segundo eles mesmos, este conjunto inclui tanto sobras do álbum Get Your Heart On e outras posteriores ao álbum. Vou analisar casa uma delas por ordem crescente das minhas preferências. Não é demais relembrar que esta ordem é provisória, muitas das músicas estão praticamente empatadas.
Ordinary Life
"I don't want to wake up
With my best years behind me
I think I'd better wake up
Before my life's behind me"
Esta é a 642ª música (ou música número 642) na discografia dos Simple Plan sobre frustração com a vida atual e vontade de fugir à rotina. Ordinary Life nem sequer tem o ponto forte de Anywhere Else But Here que, ao menos, tinha uma sonoridade fora do habitual da banda. Antes pelo contrário, o arranjo de Ordinary Life é vulgaríssimo na discografia dos Simple Plan e até traz ecos de Jump. Daí que considere Ordinary Life a mais fraca deste EP.
Fire In My Heart
"Felt the spark, left a mark I can't erase"
Esta faixa vai na linha de várias músicas pop de hoje em dia que adotam metáforas relacionadas com fogo. Em Fire In My Heart simboliza, obviamente, paixão romântica. Não é de surpreender que a letra, que explora esta metáfora, não seja particularmente memorável.
Em termos de sonoridade, Fire In My Heart soa-me a uma Sippin' On Sunshine, de Avril Lavigne, mais roqueira. Também possui alguns ecos de Summer Paradise. No fundo, Fire In My Heart é uma música de verão, de lua-de-mel, mas longe de ser uma das mais marcantes deste EP.
The Rest Of Us
"We do it better than the rich and the fabulous"
Seguindo-se a Ordinary Life na tracklist, The Rest Of Us acaba por contrariar a mensagem da faixa anterior. Enquanto Ordinary Life se queixa da vulgaridade da rotina, da anonimidade, The Rest Of Us não se importa com isso, chega mesmo a enaltecer a condição de simples mortal. Vai em linha com a moda das músicas para elevar a auto-estima (Born this Way, Firework, Anklebiters, entre outras) que se mistura com campanhas anti-bullying. Esta mensagem de que as pessoas comuns, mesmo estranhas, são melhores que as celebridades convencionais vai também em linha com os tempos atuais, de crise, em que fica bem a figuras como a Princesa Leticia e Kate Middleton aparecerem em público com roupas de marcas mais económicas, em que personalidades mais terra-a-terra, como a atriz Jennifer Lawrence, ganham popularidade. Não admira que tenham escolhido esta música para montarem um videoclipe. Não sei se The Rest Of Us chegará a ser single e a tocar nas rádios mas, se o for, tenho a certeza de que, pelo menos pela mensagem, seria bem sucedida.
Destaque ainda para a referência a Bruno Mars.
In
"Tell me why, Tell me why we wait so long
When we know, When we know where we belong"
A letra de In fala sobre baixar a guarda e arriscar no amor, ter a coragem necessária para se abrir para outra pessoa, para se comprometer com outra pessoa. Como se pode calcular, não é um conceito completamente original, mas não faltará quem se identifique com ele.
Em termos de sonoridade, recorda-me um pouco Another Heart Calls, dos All-American Rejects, pela maneira como alterna momentos calmos, misteriosos, algo etéreos - só com piano e batidas leves - com momentos mais frenéticos, sustentados por guitarras elétricas. Tal como outras músicas deste EP, não difere radicalmente da sonoridade típica dos Simple Plan mas é suficientemente interessante para ganhar carácter próprio.
Outta My System
When we know, When we know where we belong"
A letra de In fala sobre baixar a guarda e arriscar no amor, ter a coragem necessária para se abrir para outra pessoa, para se comprometer com outra pessoa. Como se pode calcular, não é um conceito completamente original, mas não faltará quem se identifique com ele.
Em termos de sonoridade, recorda-me um pouco Another Heart Calls, dos All-American Rejects, pela maneira como alterna momentos calmos, misteriosos, algo etéreos - só com piano e batidas leves - com momentos mais frenéticos, sustentados por guitarras elétricas. Tal como outras músicas deste EP, não difere radicalmente da sonoridade típica dos Simple Plan mas é suficientemente interessante para ganhar carácter próprio.
Outta My System
"Now I'm here coming back to life
Turning my wrongs all back to right
I was way down, I was locked up
Now I'm free"
Turning my wrongs all back to right
I was way down, I was locked up
Now I'm free"
Esta faixa é a mais eletrónica deste EP sem, no entanto, deixar de lado o pop rock característico dos Simple Plan. Tenho de destacar a bateria atmosférica em conjunto com os acordes de guitarra elétrica e as notas de piano ao longo da terceira parte da faixa, dando um carácter inesperadamente épico à música, elevando a sua qualidade.
A letra descreve a maneira preferida de ultrapassar uma separação: indo para a borga, saturando o fígado com etanol, enrolando-se com perfeitas desconhecidas. Com o risco de se tornar algo machista, acaba por ter a sua graça.
A letra descreve a maneira preferida de ultrapassar uma separação: indo para a borga, saturando o fígado com etanol, enrolando-se com perfeitas desconhecidas. Com o risco de se tornar algo machista, acaba por ter a sua graça.
Try
"It feels like it's taking forever
"But if you can give me half a chance I'll show,
How much I can fix myself for you."
How much I can fix myself for you."
Gosto do início de Try: piano com algumas notas eletrónicas, a que se juntam batidas a meio da primeira estância. A sonoridade mantém-se mais ou menos até à terceira estância, durante a qual se juntam guitarras elétricas e bateria "a sério", transformando-a numa balada mais pop rock. Devo dizer que gosto bastante do efeito. Não me lembro de alguma vez ter ouvido algo assim.
Em termos de letra, é uma canção de amor, de súplica por perdão, por uma segunda oportunidade, do género I Will Be, Best Of Me e Far Away (curioso: acabo de citar uma música da Avril Lavigne, uma dos Sum 41 e uma dos Nickelback na mesma frase...). Não é de todo uma letra particularmente original mas a sonoridade eleva a música bem acima da média.
Lucky One
"It feels like it's taking forever
But one day, things could get better
And maybe... my time will come"
Chegámos, assim, à minha preferida deste EP. Lucky One é uma balada quase exclusivamente acústica (se não for totalmente acústica). É um arranjo simples, o mais simples deste EP, mas funciona bem, condiz com a mensagem da canção.
Esta é, aliás, o ponto forte desta música: pega um pouco na auto-comiseração que caracteriza vários temas da discografia da banda, em particular no início da sua carreira. Existe, contudo, num amadurecimento na maneira como aborda o tema, na maneira como o transforma numa mensagem de esperança, recordando-me Last Hope dos Paramore - uma das músicas deste ano, para mim. Tal como acontece no tema dos Paramore, Lucky One fala sobre infelicidade, contrariedades, sonhos por realizar Fala em particular da sensação de que as coisas boas só acontecem aos outros. Existe, no entanto, a esperança de que venham tempos melhores, de que um dia seja possível conquistar-se um final feliz. Visto que toda a gente já passou, pelo menos uma vez na vida, por um momento de desânimo, em menor ou maior grau, esta é uma mensagem que cativa com facilidade. Destaque para os tempos que correm, em que muitas pessoas passam por dificuldades. Uma mensagem de esperança é sempre bem-vinda - é aqui que reside a força de Lucky One.
Neste EP, a banda canadiana continua igual a si mesma, para o melhor e para o pior: pop rock, punk pop, com uma ou outra influência influência eletrónica, com melodias tão contagiantes como sempre. Letras que, sem serem particularmente originais, têm aquele toque de vida real que é cada vez mais raro na música pop. O tal toque que faltou ao último álbum de Avril Lavigne, que não falta no último álbum dos Paramore. Não existe grande evolução relativamente ao material antigo mas, também, é um EP de sobras. Não se poderia exigir o que se exige de álbuns de doze músicas. No entanto, independentemente da evolução ou da falta dela, tal como listei anteriormente, de uma maneira geral são músicas boas, com conceitos interessantes.
Já li críticas - não apenas relativas a este EP - acusando a sonoridade da banda de estar ultrapassada. Eu mesma critiquei aqui no blogue o facto de os Simple Plan não se aventurarem fora deste espectro. No entanto, depois de ouvir e gostar deste EP, a pergunta que faço é: será mesmo necessário os Simple Plan mudarem?
Mudar só por mudar, só por motivos comereciais, não faz sentido. Corre-se mesmo o risco de a banda perder a sua integridade. Não precisamos de mais artistas cantando temas dubstep sobre borga. O material que os Simple Plan criam pode trnar-se repetitivo mas é autêntico, tem mais qualidade e mais conteúdo do que a média, maior potencial para servir-me de inspiração. E mesmo que os Simple Plan já não tenham a popularidade de outros tempos, ainda são capazes de arrastar fãs atrás de si. Que mais se pode exigir?
A banda deve começar, em breve, a trabalhar no seu quinto álbum de estúdio, um processo que ainda deve demorar algum tempo. Uma eventual mudança de estilo, a acontecer, teria de ser vontade dos próprios Simple Plan. Como terá acontecido com os Paramore - segundo os mesmos, eles tentaram manter o estilo dos álbuns anteriores mas, por motivos variados, a velha fórmula já não resultava. E ainda lhes custou bastante abraçarem a mudança. Quanto aos Simple Plan, para eles o estilo atual parece ainda funcionar. O mesmo parece acontecer com os fãs. Neste EP, para mim, funciona. Que se mantenha assim e ficamos todos felizes.
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