sábado, 22 de dezembro de 2012

Música de 2012 #1

O final do ano aproxima-se a passos largos. Uma coisa que costume fazer no fim de cada ano é eleger os cantores, faixas e/ou álbuns musicais que mais me marcaram nesse mesmo ano.

2011, por exemplo, foi um ano bastante rico em termos musicais para mim. Há um ano, elegi Goodbye Lullaby, de Avril Lavigne, e The Unforgiving, de Within Temptation (Crítica AQUI), como os álbuns do ano, com destaque para os singles Smile e Shot in the Dark, respetivamente. Também marcantes foram o single Monster, dos Paramore, e a banda Sum 41, apesar de não ter gostado tanto assim de Screaming Bloody Murder.


Este ano, Alanis Morissette foi uma cantora marcante. Já a conhecia há bastante tempo e músicas como Ironic e You Learn há muito que fazem parte da minha playlist. Este ano decidi ouvir-lhe a discografia completa. Vou ser sincera, gosto muito de cerca de uma dúzia de músicas dela, na sua maioria singles, mas o resto não me diz muito. A minha favorita, tirando Guardian, é Hand In My Pocket - um dia falarei sobre ele e sobre outras na rubrica Músicas Ao Calhas.

Uma coisa em que reparei ao ouvir as músicas de Alanis é que esta parece ter uma personalidade semelhante a Bia, a minha personagem principal feminina. As músicas de Alanis dão-me a ideia de uma mulher de carácter forte, terra-a-terra embora não deixe de ter uma componente espiritual, que comete erros, possui imperfeições e não tem problemas em admiti-lo, chegando a ser, por vezes, politicamente incorreta.

No entanto, a semelhança com Bia é mais evidente em Guardian.


Em termos musicais não há muito a dizer. O estilo é o típico rock leve e feminino, característico de Alanis. Aquilo que mais me atraiu na música foi mesmo a letra. Alanis escreveu-a pensando no filho que teve há pouco tempo, embora admita que ela mesma é bastante altruísta e protetora relativamente aos demais. A música fala, precisamente, sobre amor, dedicação, lealdade, instintos protetores.

Na verdade, Guardian acaba por ter mais a ver, não com Bia, mas com a personagem que lhe deu origem, a personagem principal da história que serviu de principal base a "Planetas Homólogos". A função dessa personagem no mundo onde a história decorre é, precisamente, a de Guardiã. Foi uma coincidência incrível que, mais de seis depois de ter criado a Guardiã, mais de dois anos depois de a ter adaptado para aquele que foi o primeiro livro que publiquei, tenha saído uma música com o mesmo nome e descrevendo perfeitamente a personalidade da minha protagonista.


Bia é uma jovem que passou por muito na vida tendo conseguido dar a volta a tais situações da melhor maneira. Só por isso serve de exemplo, de inspiração, àqueles que a rodeiam, quando eles mesmos passam por dificuldades. Ela própria é também muito altruísta, capaz de fazer tudo por aqueles que ama. Em particular por Alex, a minha personagem principal masculina.

Começo a entrar um pouco no campo dos spoilers, mas enfim... Em "O Sobrevivente", Bia torna-se a principal protetora, a principal mentora de Alex e da sua irmã no mundo em que entram. O mais engraçado é que a própria letra de Guardian acaba por remeter para Alex: "You who has pushed beyond what's humaine", "they were distracted and shut down". Outra coisa em Guardian que me recorda as minhas personagens é o facto de o protegido já possuir uma certa força por si só, já ser um ser extraordinário à sua maneira, não apenas uma criatura indefesa e insignificante.


Uma outra música que acaba por ter um espírito semelhante a Guardian é Angel With a Shotgun, dos The Cab. A letra fala igualmente em instinto protetor, algo feroz até, embora com um carácter mais romântico e ficcionado. Lembra igualmente Bia, capaz de tudo como ela é para proteger aqueles que ama, que ainda por cima anda sempre munida de uma arma. A soniridade remete igualmente para a ficção, com um rock algo sinfónico, que lhe confere um carácter épico.

O único "defeito" desta música é mesmo não ter voz feminina. Se tivesse, Bia poderia assinar por baixo. Sei que existe uma versão feminina, por Nightcore, mas nota-se que é uma manipulação informática da música orignal. Se surgir algum cover feminino genuíno de Angel With A Shotgun, avisem!


Fica aqui a receita: se algum artista que me quiser conquistar, tem de criar música que se ligue, de uma forma ou de outra, às minhas histórias. Se a música for capaz disso, rapidamente tornar-se-à imortal para mim. Falo aqui meio a brincar meio a sério pois, desde que comecei a considerar-me uma escritora buscando inspiração em diversas fontes, sinto cada vez menos paciência para música superficial e anseio por música com algum conteúdo. Foi por isso que não gostei tanto quanto esperava da recém-lançada trilogia de álbuns dos Green Day.

É claro que existem algumas exceções, em particular uma certa exceção e mesmo nesses casos, é raro tais músicas serem as minhas preferidas. Mas isso fica para outras escritas, se se justificar.

Esta foi apenas a primeira entrada sobre Música de 2012. Planeio publicar mais uma. Mantenham-se ligados!

E, já agora, Feliz Natal!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Sobrevivente - Planetas Homólogos


Uma vez que faz hoje um ano desde o lançamento oficial do meu primeiro livro, O Sobrevivente, julgo que é altura de, finalmente, falar sobre ele aqui no blogue. Não que nunca o tenha feito. Se repararem nas minhas outras entradas, em várias delas faço referência à minha escrita. Mas nesta falarei exclusivamente sobre o processo de criação da minha obra. Este, "oficialmente", começou em inícios de 2010 mas, na verdade, sinto que o tenho criado ao longo de toda a minha vida e só há quase três anos é que comecei a deitá-lo cá para fora.

Toda a minha vida adorei livros, eu e os meus dois irmãos mais novos, muito por influência dos nossos pais. É uma coisa quase inata. Ainda mal sabíamos andar e já íamos à estante dos policiais da minha mãe. É claro que na altura era para rasgá-los, não exatamente para lê-los... O meu pai ainda hoje nos lê livros em voz alta. Nós, os cinco, adoramos ler. Mas apenas a mim me calhou gostar de escrever. 

Escrever sempre foi, de resto, a minha atividade preferida, quase desde que aprendi a fazê-lo. Lembro-me de ter começado quando devia ter uns sete ou oito anos. Ou nove. Como já referi em entradas anteriores, comecei por escrever histórias com personagens de desenhos animados, como o Bugs Bunny ou o Rato Mickey e respetiva companhia. Foi algo que nunca deixei de fazer ao longo dos anos. Escrevia historietas de vários tipos, algumas fanfics before-it-was-cool (antes de ser fixe, de estar na moda); experimentei escrever poemas mas não tinha jeito; tive um diário durante vários anos; e, nesta altura, já saberão do meu primeiro blogue, O Meu Clube é a Seleção.




A ficção sempre foi aquilo que mais me atraiu. Ainda no outro dia estava a folhear um dos meus diários e encontrei uma passagem referente à altura em que me apercebi disso, há cerca de seis anos: "Deu-me um prazer infinito escrever a história. Criar as personagens, definir-lhes a personalidade, jogar com os seus pensamentos e emoções, com o medo, a coragem, a angústia, a cumplicidade, a determinação, motivados pela aventura... E como se fosse uma private joke dos escritores." Na altura, escrevia já as histórias que me serviriam de base a "Planetas Homólogos", a saga que começa com "O Sobrevivente".

Olhando para trás, reparo que os melhores períodos da minha vida têm sido aqueles em que criava ficção a um ritmo frenético. Ao mesmo tempo, aqueles períodos em que me sentia mais vazia correspondem a altura em que escrevia menos, em particular ficção. Com poucas exceções, só este género de escrita me preenche por completo.

E há já muitos anos que pouquíssimas coisas são melhores do que estar ao computador, passando a limpo o rascunho de uma qualquer história que estivesse a escrever na altura, ao som da minha música.

Já tinha feito algumas tentativas de escrever algo para publicar, mas não funcionaram. Demorei algum tempo a perceber porquê: eram demasiado impessoais. Para aquilo resultar, teria de torná-lo pessoal, de amar as personagens, de verter a minha personalidade, as minhas crenças, as minhas ideias, na história. Se não significar nada para mim, a minha escrita nunca passaria da mediania. Ou mesmo da mediocridade. Falo por experiência.


O que nos leva às minhas fontes de inspiração. Já falei de muitas delas em entradas anteriores. A inspiração pode vir de qualquer lado e de diferentes alturas da minha vida. Em termos de livros, destacaria a série Harry Potter e o Ciclo da Herança, de que falei AQUI

Outra fonte de inspiração é a música, como já devem ter percebido a partir das várias entradas deste blogue dedicadas ao tema. Existem músicas que me deram ideias (não dou exemplos por serem spoilers). Músicas que descobri e que calharam descrever bem uma determinada personagem (Guardian, de Alanis Morissette; Into The Fire, de Bryan Adams), um determinado sentimento (Keep Holding On, de Avril Lavigne) ou um determinado acontecimento, sobre o qual já tinha escrito, se não nesta história em particular, nas histórias que serviram de base (New Divide, dos Linkin Park). Músicas que ouvi numa altura em que trabalhava numa determinada parte, que me ajudaram na escrita da mesma (Faster, de Within Temptatin) ou cujo espírito se entrelaçou com o espírito da história (How Do Ya Feel Tonight, de Bryan Adams). Alguns dos capítulos do livro, bem como dos próximos, abrem com citações e a larga maioria delas são versos de músicas, como as que citei. 

Também me inspiro a partir de filmes, séries, coisas que me aconteceram, as minas próprias crenças e dúvidas. Obtenho inclusivamente inspiração a partir dos meus estudos - isso foi particularmente importante na definição do conceito-base da história. Como já afirmei NESTA ENTRADA, tudo isto pode não ser suficiente para tornar a história original mas torna-a algo que só eu poderia contar.

Isso transforma-se numa faca de dois gumes, é claro. Billie Joe Armstrong, dos Green Day, à sua maneira irreverente, definiu na perfeição esse sentimento: um misto de orgasmo e ataque de pânico. Uma pessoa sente-se entusiasmada por realizar o seu sonho, orgulhosa quando as pessoas lhe dão os parabéns e elogiam o seu livro e, ao mesmo tempo, sente-se aflita pois todo o seu eu está ali, escarrapachado nas suas páginas, disponível para qualquer um ler, à mercê da troça e da crítica de toda a gente. Dias antes do lançamento oficial estive com vómitos - algo que, segundo o meu pai, acontece a mim e à minha mãe quando nos stressamos a sério. Não é fácil, digam o que disserem. 


Esta parte da entrada tem imensos spoilers, por isso, caso não tenham lido o livro, aconselho-vos a saltar estes parágrafos.

Antes de começar a delinear a história sabia o que queria fazer. Queria criar algo que misturasse aventura, ação, romance, alguma fantasia e/ou ficção científica, lá está, estilo Harry Potter ou Ciclo da Herança. As personagens surgiram-me primeiro, adaptadas de histórias anteriores. O conceito demorou-me um pouco mais. Na altura - relembrando: inícios de 2010 - estavam muito na moda os vampiros e tinha acabado de sair o filme Avatar. Os vampiros não me diziam muito mas não nego que o Avatar me tenha influenciado, embora não saiba dizer se consciente ou inconscientemente. Queria criar as minhas próprias criaturas sobrenaturais.





Lembro-me razoavelmente do dia em que defini, finalmente, o conceito-base da história e certos pormenores do enredo, do momento em que tive a epifania - durante uma aula teórica - e até do raciocínio que a ela levou. Acima, estão algumas das digitalizações das notas que tomei na altura. Lembro-me de estar a ouvir a versão dos Full Blown Rose de In The Air Tonight - a versão que aparece em Tru Calling. Lembro-me de estar a pensar no Digimon, no conceito dos mundos/dimensões/realidades alternativas, de acabar por decidir criar um conceito misto de outro planeta e respetivos habitantes, com portais de acesso espalhados um pouco por todo o planeta Terra. Batizei o planeta de Minerva visto ser a única figura mitológica greco-romana de que me lembrava que não tinha dado nome a um planeta. Chamei nervianos aos habitantes. 

Nesta parte entra o meu curso. Visto que, naquela altura, andava a estudar a bioquímica do ADN e tudo o que a ele está ligado, decidi fazer uma analogia com os cromossomas homólogos. Daí que os portais se chamem "pontos de quiasma", que a troca de habitantes entre ambos os planetas se designe "crossing over", que a saga se chame "Planetas Homólogos".

Como forma de imortalizar esse dia, 22 de março de 2010, decidi torná-lo no dia de aniversário de Alex, a minha personagem masculina principal.


Fim dos spoilers

Comecei a escrever o primeiro capítulo no dia seguinte - bem, em rigor, não comecei pois já tinha um esboço. O que fiz foi escrevê-lo tendo em conta o conceito recém-criado. Foi nesse dia, também, que ouvi How Do Ya Feel Tonight pela primeira vez, a música que acabou por se tornar a faixa-tema da saga (mais pormenores AQUI).

Escrevi este livro sem grande planeamento, exceto no início de cada capítulo, deixando que a história se contasse a si mesma. Só quando ia mais ou menos a meio é que defini o esqueleto básico do que restava, bem como dos outros livros da série: quatro no total. Agora já não faço isso, já não parto às escuras para a escrita mas também não planeio tudo ao pormenor. Não sou capaz de fazê-lo, há coisas que só surgem durante a escrita propriamente dita. Só dessa fora consigo sentir a alma do livro.

Mas também me acontece o contrário, também me acontece bloquear quando tento ir às cegas. Foi o que me aconteceu no meu terceiro livro. Mas já lá vamos. Nesse aspeto, ESTA ENTRADA do blogue da escritora de fantasia Rachel Aaron foi uma ajuda valiosa. Esta e outras semelhantes do blogue dela. Só é pena que os livros dela não estejam a venda no nosso País, já que os textos dela me têm ajudado tanto. Além de que fiquei curiosa em relação aos livros dela.



Como já afirmei anteriormente, "O Sobrevivente" é o primeiro livro de uma série de quatro. O seu objetivo principal é quase só o de apresentar as personagens, o conceito. De certa forma, a história a sério começa no segundo livro, chamado "O Tsunami". Este já está escrito mas ainda está em bruto, falta-lhe ser editado. Na verdade, acabei de escrevê-lo há cerca de ano e meio mas tenho adiado o processo de edição pois as atenções estavam, na altura, todas voltadas para o lançamento de "O Sobrevivente". Posso desde já adiantar que "O Tsunami" está melhor que o seu antecessor, mais tenso, mais emotivo, com um enredo mais complexo. Estou bastante orgulhosa dele. Ainda não dei a ler a ninguém, tirando a minha irmã e mesmo ela não chegou a acabá-lo. Quero editá-lo primeiro, mas estou ansiosa por ouvir a opinião da minha mãe, do meu irmão e, depois de publicado, das outras pessoas. 

Neste momento, encontro-me a escrever o terceiro livro. Como já tinha mencionado no verão passado (ver AQUI), este está a custar-me mais. Enquanto os dois primeiros foram escritos em cerca de seis ou sete meses - lembro-me que, no início de "O Sobrevivente", escrevia um capítulo por semana - ando há mais de um ano a trabalhar neste. Tive vários bloqueios. Por exemplo, reescrevi várias vezes os primeiros capítulos - tanto "O Sobrevivente" como "O Tsunami" têm um bom primeiro capítulo, se tivesse seguido o plano inicial, a história teria demorado demasiado tempo a começar. Admito que aquele misto de entusiasmo e ansiedade ao lançamento de "O Sobrevivente", em particular, a parte da ansiedade, tenham contribuído grandemente para tais bloqueios. 




Outro fator terá sido, pelo menos inicialmente, a falta de planeamento, como referi anteriormente. No início, sabia como o livro começava e como acabava. Levei algum tempo a preencher o grande buraco no meio. Só consegui acabar de fazê-lo há poucos meses, depois de ter tido tempo de me organizar, durante o verão. Assim que tal buraco ficou preenchido, consegui retomar o ritmo de escrita dos dois primeiros livros. Só me falta escrever o fim. Ao longo das últimas semanas, fui passando a computador todos os rascunhos que fui escrevendo desde o início do ano, em particular nos últimos meses - cem páginas, no total! - de modo a montar o puzzle, dar coesão à história e descobrir como encerrá-la devidamente. No verão achava o livro não teria grande força por si só mas acho que consegui dar a volta ao texto - literalmente e não só. No processo da escrita, consegui descobrir a alma do livro, já antes mencionada, arranjar maneira de ligá-lo ao livro seguinte. Pode não ficar tão bom como "O Tsunami" mas andará perto, pelo menos em termos de tensão e emotividade. Conto acabar de escrevê-lo dentro de um mês ou dois. E depois começar o quarto e último livro.

Nem sempre tem sido fácil esta jornada. Não falo apenas na dualidade orgasmo/ataque de pânico de que falei acima. Tenho plena consciência de que os meus livros não são perfeitos, antes pelo contrário. Existem muitas coisas que gostaria de mudar em "O Sobrevivente" e angustia-me já não poder fazê-lo. Tenho consciência de algumas das fraquezas da minha história, mas temo não estar a conseguir vê-las todas. Nos últimos dois anos habituei-me a ler críticas de livros, filmes, séries, etc - uma das coisas que me levou a criar este blogue. E se isso me permite aprender com os erros alheios, também me faz pensar no que diriam os críticos sobre o meu livro. Interrogar-me se este será pior do que a noção que tenho dele, se estarei a criar estereótipos em vez de personagens, se a minha história será previsível, cheia de clichés, se o meu livro será, pura e simplesmente, patético. Se teria feito melhor se nunca o tivesse publicado.

Em suma, muitas vezes sinto-me uma criança brincando aos escritores.


Não é o suficiente para me fazer parar de escrever, de criar ficção. Não é por teimosia, é porque já está tão enraizado em mim que se tornou quase uma necessidade fisiológica, como já mencionei anteriormente, como  o são a comida, a bebida, o sexo, o sono, etc. A minha mãe disse-me uma vez que admira a minha persistência por ter escrito um livro do princípio ao fim, mas para mim não se trata disso. Isto não me é um esforço, não é trabalho, antes pelo contrário. É ócio. É como ver televisão, estar no Facebook, jogar videojogos. É algo que me serve de consolo, que me ajuda tantas vezes a manter a sanidade mental. Acaba por se tornar um vício. Com a vantagem de, ao contrário do álcool e das drogas, não me dar cabo do fígado e estar a criar algo relativamente útil.

Pelo menos é o que digo a mim mesma.

De qualquer forma, a escrita - de ficção e não só - já se enraizou de tal forma na minha personalidade que, se não fosse escritora, não seria a mesma pessoa. Seria ainda mais insignificante, mais patética, do que sou atualmente. Além de que a escrita já me levou mais longe do que tudo o resto - não muito, mas o suficiente para me fazer sentir que, em quase vinte e três anos de respiração individual, já fiz alguma coisa nesta vida, por pequena que seja.

Como podem ver, desistir da escrita ou mesmo fazer apenas uma pausa, por curta que seja, não é opção.
Ainda não sei o que escreverei depois de terminar esta história. Tenho uma ou duas ideias muito vagas. O problema é que sinto que os "Planetas Homólogos" são a história que estava destinada a escrever, a história que esteve dentro de mim a vida inteira mas que só comecei a deitar cá para fora em 2010. E tendo em conta o que disse anteriormente, que a minha ficção só funciona quando amo as personagens, quando amo a história, tenho algum receio de não conseguir amar outras histórias, outras personagens, da maneira que amo estas.

Visto que ainda estou longe de terminar esta história, não terei de me preocupar com isso tão cedo. Nos próximos tempos, continuarei a trabalhar nela. Ao mesmo tempo, vou lendo livros, vendo séries e filmes, ouvindo música, falando sobre algumas dessas obras aqui no blogue, de modo a encontrar fontes de inspiração.

Mesmo que nunca seja uma escritora de sucesso, que não consiga vender muitos livros, que nunca realize os meus sonhos mais irrealistas - com ver os meus livros adaptados ao cinema - mesmo que nem sequer consiga publicar mais nenhum livro, ninguém será capaz de roubar o prazer destas epifanias criativas, dos impulsos febris de escrita, de escrevinhar até sentir a mão dorida, gastando bics atrás de bics, de passar horas e horas ao computador, convertendo o texto manuscrito em texto digital. Enquanto for capaz de escrever, quer seja ficção, quer seja nos meus blogues, de desfrutar tudo o que a isso está associado, nunca serei um fracasso como escritora, pois uma grande parte de mim viverá para sempre nos meus textos.

Podem adquirir o livro AQUI.

Visitem a página do Facebook AQUI.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Músicas Ao Calhas: Another Heart Calls


Não me recordo da altura exata em que tomei contacto com a banda The All-American Rejects pela primeira vez mas lembro-me como foi. Foi há uns anos quando vi o Behind the Scenes do vídeo para It Ends Tonight, na MTV. Gostei quase de imediato da música. Mais tarde, algures em 2008 ou 2009, o meu irmão tomou contacto com eles, tendo-me falado de Gives You Hell e Real World que, inclusivamente, faria parte da banda sonora de uma série qualquer - mas não consigo descobrir qual, nem mesmo pesquisando... Já andava há algum tempo para conhecer melhor a banda, resolvi fazê-lo este ano. Ouvi-lhes toda a discografia. Ainda não ouvi o último álbum deles, Kids On The Street, mas quero comprá-lo assim que puder. Depois de ouvir, certamente escreverei uma crítica para publicar aqui no Álbum.

Gosto da sonoridade pop rock da música deles, das melodias cativantes. Tenho uma mão-cheia de faixas preferidas - Move Along, I Wanna, Damn Girl, Gives You Hell, Another Heart Calls, que deu origem a esta entrada. Gostei, particularmente, do último álbum deles, When The World Comes Down. Estou com grandes expectativas em relação a Kids On The Street. No entanto, tenho sentido uma certa relutância em incluir os All-American Rejects entre as minhas bandas preferidas. Sinto que lhes falta qualquer coisa que os distinga de outras bandas de rock. Os temas estão todos dentro do comum, do politicamente correto - tirando Gives You Hell. Os Green Day têm punk rock rebelde, com ou sem causa. Os Linkin Park têm mistura de estilos musicais com temas emo. Os Sum41 têm punk rock energético, podendo ser, pura e simplesmente, arruaceiro ou abordar temas com que nos podemos identificar. Os Simple Plan têm o punk pop, ainda algo adolescente. Os Paramore têm punk rock adolescente e/ou jovem adulto, com voz feminina. Os Within Temptation têm rock sinfónico, com influências góticas. Estas definições são simplistas, é claro, mas a verdade é que, na minha modesta opinião, aos All-American Rejects falta uma identidade deste tipo, falta um estilo próprio. Tenho esperança, contudo, de que o tenham encontrado em Kids On The Street, que tenham arriscado um pouco mais.

Mas, para já, quero falar do produto da colaboração dos Rejects com a banda The Pierces: Another Heart Calls, uma das minhas preferidas deles.



Say it's true,
I'd never ask for anyone but you

Another Heart Calls é das músicas mais interessantes e originais, pelo menos musicalmente, dos All-American Rejects, pois começa como balada e acaba agitada, dando vontade de abanar o capacete. Além de que gosto bastante de colaborações homem-mulher deste género.

A faixa abre com piano no fundo e notas de guitarra que, apesar de me recordarem os primeiros versos de Incomplete, dos Backstreet Boys, conferem um tom misterioso, etéreo, que se prolonga até ao primeiro refrão, este particularmente emotivo. Destaque ainda para as batidas após o verso "another heart calls", assemelhando-se, precisamente, a batimentos cardíacos.

A faixa ganha um carácter completamente diferente após o fim do primeiro refrão. Surgem batidas fortes e guitarras elétricas, sem que se perca a emoção, que se mantém até ao final. Uma das minhas partes preferidas da faixa são os coros após o segundo refrão: os "whoa-o-o-oh" masculinos e os "la la la" femininos.

A letra da música é muito vaga, inespecífica, deixando adivinhar pouco mais do que um relacionamento com problemas de comunicação, que já passou a fase de lua-de-mel. A emoção está toda no arranjo musical e nas vozes de Tyson Ritter e Allison Pierce.

Não resisto a concluir este texto com um vídeo de uma entrevista que o Tyson deu em conjunto com Avril Lavigne - quem mais? Destaque para os bloopers, no final.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Músicas Ao Calhas: Mobile

Depois de várias Músicas Ao Calhas, já estava na altura de falar de uma música da minha cantora preferida, Avril Lavigne. A discografia da cantautora canadiana inclui várias faixas que dão pano para mangas pelos motivos citados AQUI e mais alguns ainda. Começarei por Mobile, do álbum Let Go, o primeiro da cantora.





Everything's changing!
When I turn around,
All out of my control
I'm a mobile

Um facto completamente irrelevante para o caso: Mobile foi a primeira música que ouvi no meu primeiro leitor de MP3, que recebi aquando do meu décimo-sexto aniversário.

Let Go é o meu álbum preferido de Avril Lavigne por vários motivos. Um dos quais é o facto de cada uma das músicas ser fortemente icónica, fortemente representativa da personalidade e/ou da vida da Avril. Mobile é um dos exemplos mais significativos disso.

O único defeito da música é a letra estar construída um pouco às três pancadas. As letras nunca foram o ponto forte da música da Avril, as suas forças residem mais nas melodias e na emoção. Isto, de resto, contradiz aqueles rumores ocasionais de que a cantora não participa na composição das suas faixas - é muito mais provável uma rapariga de dezasseis anos, saída da escola, tenha escrito esta letra do que um experiente produtor de música.

Em termos musicais, Mobile está dentro da sonoridade predominante em Let Go: guiada pela guitarra acústica, a que se juntam guitarras elétricas no refrão. A melodia é forte, contagiante, como, de resto, quase todas as músicas da Avril. A terceira parte da música, que inclui o terceiro verso, o solo de guitarra, o refrão incompleto e os "la la la"'s, é a minha preferida.




Avril criou esta música inspirando-se na grande e súbita volta que a sua vida deu quando, aos dezasseis anos, assinou o seu primeiro contrato de gravação com a Arista Records, mudando-se, consequentemente, para Nova Iorque e, mais tarde, para Los Angeles, para gravar um disco - uma mudança que ela nem sequer compreendia na sua totalidade. Ela refere-o várias vezes em entrevistas: no início da sua carreira era muito ingénua, não se apercebia da sorte que tinha por ter conseguido assinar com Anthony L.A. Reid, por ter lançado o seu álbum de estreia aos dezassete anos e por os primeiros três singles deste disco (Complicated, Sk8er Boi, I'm With You) terem sido sucessos estrondosos.

Toda a gente passa por uma mudança deste género na passagem para a vida adulta, por essa montanha-russa de emoções contraditórias mas poucas são tão grandes e tão precoces como aquela por que a Avril passou. E ainda a procissão ia no adro aquando da criação de Mobile. Quando Avril a compôs, pensava apenas na mudança de Napanee, a sua terra natal, para Nova Iorque e, depois, Los Angeles. Dentro de um ano ou dois, a jovem tornar-se-ia conhecida por todo o planeta, com todas as vantagens e desvantagens desse estatuto, entraria em digressão pelo Mundo inteiro, demorando algum tempo a adaptar-se a essa vida.  De certa forma, Mobile acabou por ser profética.
 




Foi para ilustrar um pouco isso que se gravou o "videoclipe" de Mobile. Este vídeo apareceu na Internet no início de 2011, numa altura em que surgiam várias filmagens inéditas de bastidores de entre 2002 e 2003, algumas da câmara pessoal da própria Avril (denominadas AvCam). Algumas destas imagens foram incluídas em documentários e no DVD My World, mas a larga maioria permaneceu até inédita até irem parar à Internet em 2010.

Segundo o vídeo acima da AvCam, a ideia era misturar imagens da "vida da Avril na estrada, fazendo e desfazendo malas", em suma, ilustrando o estilo de vida de que falei acima, com imagens da Avril cantando e tocando no meio de uma estrada - estrada que simbolizaria o caminho que a cantautora já percorrera e o caminho ainda por percorrer. O vídeo seria incluído no DVD My World.

Tal nunca chegou a acontecer, provavelmente por as filmagens terem ocorrido à margem da editora discográfica, tal como é assinalado neste vídeo da AvCam. Nota-se até um certo amadorismo na forma como eles arranjam o playback à última hora.





Em todo o caso, houve quem conseguisse ter acesso às filmagens há quase dois anos e montou-as, dando-lhe a forma de um videoclipe. A reação dos fãs foi muito positiva, especialmente por parte dos mais saudosistas da era Let Go. Para mim, tem um significado extra pois, tendo eu o hábito de fazer montagens de vídeos da Avril, material novo é sempre bem-vindo. Avril aparece com muito pouca maquilhagem - o que, hoje em dia, é raro - exibindo feições pueris, parecendo ter bem menos que os dezoito anos que tinha na atura. A jovem surge a chorar nalgumas cenas - não sei se foi de propósito ou não mas considero que a alternância entre lágrimas e sorrisos ilustram bem a montanha-russa emocional de que falei anteriormente. Existe, de facto, um espírito muito Let Go nestas imagens, personalidade forte, rebeldia, à mistura com alguma inocência. Gosto particularmente das imagens finais, em que ela aparece a correr, tal como, mais tarde, aconteceria em My Happy Ending, When You're Gone e Alice - estas cenas são das minhas preferidas e adoro usá-las nas minhas montagens.

Praticamente todas as músicas da Avril são imortais mas as músicas de Let Go têm ainda mais motivos para isso. Vejam só o testamento que estou a escrever só sobre Mobile! Outras músicas do álbum de estreia da cantautora canadiana têm tanto que se lhe diga ou ainda mais.

Em 2002/2003, Avril Lavigne era uma jovem cantautora, vinda de uma terra pequena, nos confins do Canadá, ainda tentando compreender e adaptar-se ao mundo onde acabara de ingressar. Hoje, dez anos, quatro álbuns, uma linha de roupas, três perfumes, uma Fundação, mais tarde, é uma mulher poderosa, perfeitamente à vontade nesse mundo. Escusado será dizer que soube ultrapassar a turbulência dos primeiros anos da sua carreira de uma forma de quem nem todas as jovens celebridades são capazes. Isso enche-me de orgulho. Avril Lavigne já percorreu muitos quilómetros ao longo da sua carreira mas a estrada continua aberta para ela. Ainda tem muitos anos de carreira pela frente, ainda tem muito que percorrer. E eu estarei lá, entre o séquito de fãs de um pouco por todo o Mundo que constantemente a empurram para diante.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Músicas Ao Calhas: Perfect World

A música de quero falar-vos hoje vem em linha com a última Música ao Calhas (Hello Cold World, dos Paramore), mais termos de conceito e por ambas serem representativas do meu estado de espírito nas últimas semanas. Já vos falei anteriormente dos Simple Plan, quando escrevi sobre o último álbum deles (AQUl). Agora quero falar-vos da minha faixa preferida deles: Perfect World, do álbum Still Not Getting Any.


I wish that I could turn back time,
'Cause I can't let go, I just can't find my way, yeah.
Without you I just can't find my way

Gosto muito do arranjo musical, em ritmo midtempo, conduzida por arpejos de guitarra elétrica, inicialmente, a que se juntam fortes acordes distorcidos. O solo de guitarra que soa várias vezes ao longo da faixa está muito bem sacado, condiz muito bem com as melodias, em particular no fim da terceira estrofe. Esta é, de resto, a melhor parte da música, pela emoção, mas acaba por não ser muito justo estar a destacar uma parte específica da faixa quando esta mantém um nível elevado deste o primeiro segundo até ao último.

A letra fala sobre dor, desalento, desorientação, insegurança. Algo com que ando familiarizada ultimamente. No caso da música, tais sentimentos derivam da perda e/ou desentendimento com alguém querido - não é bem o meu caso mas já vi que poderá ilustrar a situação de uma das minhas personagens no quarto livro.

No fundo, como já afirmei acima, pela parte que me toca, é um sentimento semelhante ao que estava associado a Hello Cold World: desilusão com a situação atual, com o Mundo em que vivemos. O futuro que se está a adivinhar não é aquele que eu desejo para mim. Num Mundo perfeito - ou um pouco menos imperfeito, pelo menos - o nosso País não estaria em crise constante, a minha geração não seria obrigada a emigrar para arranjar emprego, os políticos colocariam o País acima das suas necessidades e ambições pessoais. 

Mas sejamos sinceros, estarmos a lamentarmo-nos, a sonhar com um mundo utópico, não nos serve de muito. Este é o mundo que nos saiu na rifa, não há devoluções e nem sequer livro de reclamações. Em todo o caso, é sempre reconfortante saber que estas sensações de impotência e desilusão não são exclusivas a nós. 

Além de que, no caso de esta música ter sido baseada em experiências pessoais, por parte de um ou mais membros dos Simple Plan, é sempre um estímulo saber que, se eles conseguiram ultrapassar uma fase má, como a descrita na música, talvez nós sejamos capazes de fazer o mesmo. 

sábado, 27 de outubro de 2012

Músicas Ao Calhas: Hello Cold World


But I'll get right back up as long as it spins around

Os Paramore tornaram-se há quase dois anos uma das minhas bandas preferidas quando, depois de estar familiarizada com os singles dos últimos anos, decidi ouvir-lhes a discografia. Existem muitas coisas que me atraem na banda: a voz e a atitude de Hayley Williams, a sonoridade, a forma como conseguem criar músicas energéticas com conteúdo - algo que a Avril Lavigne não tem conseguido fazer - músicas como Crush Crush Crush, That's What You Get, The Only Exception (de que falarei noutra entrada), Monster, o concerto que deram no ano passado, no Optimus Alive.

Ultimamente, o que me tem atraído mais para os Paramore, o que me tem feito aguardar com alguma ansiedade o álbum que estão a preparar neste momento, é o facto de a Hayley ser apenas um ano mais velha do que eu, o facto de, pelo que tenho deduzido de algumas entradas do blogue dela, ela partilhar comigo algumas crenças e preocupações, de ela ver o mundo de maneira parecida com a minha, de se encontrar numa fase da vida, em alguns aspetos, semelhante àquela em que me encontro.

Às vezes penso que tenho mais em comum com a Hayley do que com a Avril. Mas isso é outra história.

O exemplo mais flagrante disto que acabo de descrever é a música Hello Cold World. Esta faixa não pertence a nenhum CD, foi lançada do ano passado através do Singles Club.

Não há muito a dizer sobre a sonoridade da música: é a típica faixa dos Paramore. Não, a grande força de Hello Cold World vem da letra. Esta descreve perfeitamente a fase em que eu e, certamente, muitos da minha idade se encontram. Uma fase algo bipolar, em que tão depressa me sinto feliz como me sinto quase suicida. Isto passando por crises existenciais, momentos de apatia, em que não sei o que quero da vida, em que questiono coisas que, anteriormente, aceitava com naturalidade. Ser adulto não é fácil. Miúdos, não tenham pressa.

Este é, de facto, um mundo frio e hostil para as pessoas da minha idade. Um pouco por todo o planeta. Claro que darei destaque ao nosso País, um país frio e hostil para a minha geração, a Geração À Rasca, aquela geração a quem venderam a ideia de que só poderíamos ser "alguém na vida", que só poderíamos viver desafogadamente se tivéssemos um curso superior. Aqueles que agora se veem de diploma na mão mas sem emprego, obrigados a emigrar. Aqueles que, depois de passarem anos e anos a estudar, de não terem feito outra coisa na vida, em nome de um futuro que agora lhes é negado, se veem obrigados a ir para a rua, a lutar de outras maneiras. ("You can't just stay down on your knees, the revolution is outside").

No entanto, a música traz também uma mensagem de esperança. Recorda-nos que ainda estamos vivos, que, enquanto por cá andarmos, mais cedo ou mais tarde encontraremos as soluções que procuramos. Talvez tenha razão. Pelo menos farei por acreditar nisso naquelas alturas, ultimamente tão frequentes, em que me sinto incapaz de lidar com este mundo gelado e hostil.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Músicas Ao Calhas: Tudo O Que Eu Te Dou


Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim.
E tudo o que eu sonhei, tu serás assim. 
Hoje quero falar-vos de uma música portuguesa, de Pedro Abrunhosa, Tudo O Que Eu Te Dou. Esta faixa tem múltiplos significados para mim, tornando-se, por isso, multiplamente especial.

Musicalmente, é uma balada apenas com piano e a voz rouca de Pedro Abrunhosa, que soa perfeitamente adequada à música. Eu, pelo menos, ouvi uma versão da música por Rita Guerra e não gostei. Sem a voz de Abrunhosa, não tem o sentimento correto. Além de que, na minha opinião, o arranjo musical não é o adequado. A versão original está perfeita da forma que está, o melhor é mesmo não mexer.

No entanto, os maiores pontos fortes desta música vêm do conteúdo. Toda a letra em si é muito vaga mas a vantagem destas músicas é poderem ser interpretadas da maneira que quisermos.

Em termos de letra, separaria as estrofes do refrão. As estrofes são constituídas por imagens atiradas um pouco aleatoriamente, de carácter romântico-erótico, um pouco fora do politicamente correto, insinuando um relacionamento complicado, associado a dor e prazer em partes iguais.

O refrão contrasta com as estrofes pela sua simplicidade, pela sua quase pureza, ainda que mais dentro do politicamente correto. Tais versos poderiam descrever qualquer tipo de relacionamento amoroso, seja ele complicado, como o descrito nas estrofes, ou mais saudável.

Pode até ser aplicado a outro tipo de relacionamento. Aqui, a interpretação é muito pessoal e está relacionada com a maneira como conheci esta faixa. Foi com um anúncio do BES, que usava o refrão desta música cantado em coro, talvez gravado durante um concerto, como banda sonora. Este passava na televisão em 2004, alguns meses antes do Europeu. Se me recordo bem, incluía imagens antigas, a petro e branco, de jogos da Seleção, do tempo dos Magriços, provavelmente. O anúncio terminava com imagens do Cristiano Ronaldo marcando um golo e a frase "Temos Equipa".

Já pedi no Facebook deles que colocassem este anúncio no YouTube. Se chegarem a fazê-lo, acrescentá-lo-ei a esta entrada.

Este anúncio acabou por revelar-se profético pois, poucos meses depois, a Seleção Nacional fez aquela lendária caminhada no Euro 2004. E Cristiano Ronaldo, na altura com dezanove anos, o "puto", como costumava eu chamá-lo, ajudaria nisso.

Acreditem ou não, já na altura, consideravelmente antes do Euro 2004, já no tempo em que o jogador madeirense dava os primeiros passos no Sporting, eu sabia que ele seria algo grande. E vejam só, passados todos estes anos, onde está ele! É aqui que entra o refrão de Tudo O Que Eu Te Dou: "Tudo o que eu sonhei, tu serás assim". Além disso, ao longo destes anos todos como fervorosa adepta da Equipa de Todos Nós, Cristiano Ronaldo tem ajudado a Seleção, direta ou indiretamente, a dar-me alegrias, permitindo-me colecionar várias boas recordações. "Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim" Por muitos defeitos que ele possa ter, ainda que, de vez em quando, ele e os colegas nos desiludam, como fizeram esta semana, este mérito ninguém lhe pode tirar.

EDITADO (20/11/13): Mais de um ano depois de escrever esta entrada, finalmente encontrei o anúncio! Obrigada ao locutor da Rádio Comercial João Vaz que o publicou no Facebook, logo depois da grande noite de Ronaldo ao serviço da Seleção que nos colocou no Mundial 2014!
 

São músicas como esta, associadas a tantas histórias, a tantas recordações, com tantos significados, que se tornam imortais. Hoje em dia, músicas e artistas surgem, de repente, sendo substituídos por outros tão rapidamente como surgiram. No entanto, existirá sempre alguém que não os deixará desaparecerem completamente. O que eu faço neste blogue, entre outras coisas, é precisamente imortalizar ainda mais músicas e cantores que, para mim, já são eternos.

Termino esta entrada com um vídeo que encontrei agora de um dueto de Pedro Abrunhosa com... Nelly Furtado, interpretando esta mesma canção. Tenho de admitir que foi um lindo momento, daqueles que só acontecem uma vez na vida. Mas vejam por vocês...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Músicas Ao Calhas: How Do Ya Feel Tonight

Neste momento, encontro-me em aulas, num semestre difícil e, no que toca à minha escrita, consegui, finalmente, inspiração para dar seguimento ao meu terceiro livro. Em princípio, devo conseguir terminar o primeiro rascunho ainda este ano. Com tudo isto, tenho deixado este blogue um pouco de lado. Tenho compilado várias notas para futuras entradas, daquelas extensas, estilo a que escrevi sobre o Ciclo da Herança. E, nesta altura do campeonato, não tenho tido tempo nem paciência para redigi-las e duvido que tenha tão cedo.

Como, no entanto, não queria deixar este blogue ao abandono, decidi criar uma rúbrica intitulada "Músicas Ao Calhas". Nestas entradas, tenciono escrever, não exatamente críticas, mas pura e simplesmente a minha interpretação e o significado de faixas da lista de reprodução que ando a construir há já quase sete anos - desde que recebi o meu primeiro leitor de MP3 - e que, atualmente, vai em mais de quinhentas músicas. Em princípio, serão textos relativamente pequenos. Relativamente... De qualquer forma, implicam menos planeamento que outras entradas e podem ser redigidos, rapidamente em dias menos inspirados para outras escritas.


(Este foi o único vídeo que consegui encontrar no YouTube com esta música)
'Cause being here feels right
Quero começar por falar de How Do Ya Feel Tonight, uma das músicas de Bryan Adams mais especiais para mim. Conheci-a em março de 2010, numa altura em que os CD's do cantautor canadiano andavam a sair em fascículos de dez euros cada. Aproveitei pois, apesar de o Bryan já ser havia imenso tempo o meu cantor masculino preferido, apenas conhecia os dois últimos álbuns de estúdio, a banda sonora de Spirit, os singles e pouco mais.

Ora, comprei o CD On A Day Like Today apenas um dia depois de ter tido a epifania que deu a ideia-base para O Sobrevivente e respetivas sequelas. Apaixonei-me imediatamente pela primeira faixa, How Do Ya Feel Tonight. Durante os dias que se seguiram, ouvi frequentemente o CD, até porque, nessa altura, estava sem MP3. How Do Ya Feel Tonight destacava-se de entre todas. Foi também nessa altura que, partindo da ideia-base, defini os primeiros conceitos e escrevi os primeiros capítulos de O Sobrevivente. How Do Ya Feel Tonight não foi propriamente uma inspiração. O que aconteceu foi que, na minha mente, o espírito do livro que comecei a escrever na altura entrelaçou-se com o espírito da música. Desse modo, How Do Ya Feel Tonight acabou por se tornar como que a faixa-tema da minha saga.


Quando à música em si, no que toca ao arranjo musical, esta não difere muito de On a Day Like Today, a faixa que dá o título ao CD e que também sempre foi uma das minhas preferidas. Ambas começam com apenas uma guitarra, a que se vão juntando discretamente outros instrumentos, ganhando acompanhamento completo após o primeiro refrão. How Do Ya Feel Tonight tem, contudo, uma aura mais melancólica, tanto em termos de sonoridade como de letra. No que toca à letra - bastante simples, como de resto todas as músicas de Bryan Adams - e ao sentimento, lembra-me um pouco I'm With You, de Avril Lavigne, que também fala de solidão, de procura por alguém que ofereça consolo e companhia.


I don't know who you are but I, I'm with you

Citei ambas as músicas no primeiro capítulo de O Sobrevivente pois achei - bastante depois de escrevê-lo, bem entendido - que ambas as músicas traduzem relativamente bem aquele primeiro encontro entre as minhas personagens principais, Bia e Alex. Porque ela passara os últimos anos, em vários aspetos, sozinha e, a partir daquele momento, estava irreversivelmente ligada àquele desconhecido, ainda que não o soubesse na altura ("I don't know who you are but I, I'm with you"). Porque ele apenas a conhecera por acidente mais sentia que estava no lugar certo à hora certa e, mais tarde, quando se recordasse daquele momento, tal pressentimento transformar-se-ia numa certeza. ("'Cause being here feels right").

Tive alguma pena por o Bryan não ter tocado esta no concerto que deu no ano passado, no Pavilhão Atlântico. Não que isso me tenha surpreendido por aí além pois How Do Ya Feel Tonight não é single. No entanto, o Bryan deu a entender, no Twitter, que vai lançar um segundo CD Bare Bones no próximo ano. Tenho andado a fazer figas para que How Do Ya Feel Tonight seja incluído no álbum ao vivo, para ficar a conhecer uma nova versão da faixa. Em todo o caso, How Do Ya Feel Tonight será sempre uma das minhas músicas preferidas por estar tão ligada aos meus primeiros livros.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Homeland/Segurança Nacional

AVISO: Esta entrada inclui informações relevantes sobre o enredo da série pelo que só é aconselhável lê-la caso tenha visto a primeira temporada de Homeland/Segurança Nacional.


Visto que hoje estreia na FOX a segunda temporada de Homeland/Segurança Nacional, quis escrever sobre aquela que considero, até ao momento, a série mais bem feita dos últimos anos.

Na verdade, não tenho muito a dizer em termos de crítica que já não tenha sido dito antes, sobretudo depois de outro blogueiro o ter feito de forma primorosa, como poderão ver AQUI. Limitar-me-ei, por isso, a fornecer a minha visão pessoal da série.

Uma das coisas de que mais gosto em Homeland é o facto de me recordar  24 - aliás, um dos atuais produtores também trabalhou na série protagonizada por Kiefer Sutherland - e as questões que debatia: intolerância religiosa, o choque entre os princípios idealistas e a segurança nacional. Homeland aborda estes temas de forma ainda mais brilhante pois, aqui, praticamente todas as personagens são muito humanas, com virtudes e defeitos, sem pretos e brancos. Isto desde as personagens principais àquelas que apenas participam em um ou dois episódios.

Há uns anos, li uma entrevista de Kiefer Sutherland em que este opinava que 24 devia ser mais explícita. Homeland não tem esse problema. Admito que não estava habituada a isso, que demorei algum tempo a adaptar-me. Ainda me questiono se algumas cenas de sexo são absolutamente necessárias. No entanto, faz tudo sentido dentro do contexto. Não se trata de sexo e violência gratuitos, como em Spartacus.

Engraçado é ver as legendas da FOX para disfarçar a linguagem violenta. O exemplo mais ridículo é uma deixa que, traduzida literalmente, daria: "Não consegues f*der a tua mulher" mas cuja respetiva legenda é "Não consegues fazer amor com a tua mulher". Tudo a ver...

A primeira temporada teve vários episódios marcantes mas, para mim, o mais marcante foi o último. De cortar a respiração, em particular durante a cena em que Brody fala com a filha ao telemóvel. A maneira pueril, crua, como Dana pede ao pai para voltar para casa é de partir o coração. E, obviamente, resulta. 



A premissa com que a primeira temporada é encerrada, "Porquê matar um homem quando se pode matar uma ideia?" deixou-me um pouco de pé atrás. Dá a entender que Brody adotará, na segunda temporada, uma atitude mais diplomática, mais pacifista. É um exemplo bonito, quem me dera que a Al-Qaeda adotasse esta metodologia de matar ideias em vez de pessoas. Mas não sei se funcionará em termos de ficção. 

A série - uma das preferidas de Barack Obama - foi uma das grandes vencedoras dos Emmys deste ano, merecidamente e sem surpresas. Daí que, depois de a FOX a ter relegado para segundo plano no ano passado - chegando mesmo, na reta final, a despachá-la com dois episódios por semana e dando maior protagonismo a produções como Spartacus e Walking Dead. Séries bem inferiores mas, pelos vistos, generosamente patrocinadas - esta temporada, Segurança Nacional seja exibida apenas uma semana após a exibição nos Estados Unidos. Tanto quanto sei, tal honra só foi concedida a Lost. Estou ansiosa por ver Homeland. Será refrescante ter episódios novos de uma boa série, numa altura em que, como afirmei anteriormente, é cada vez mais difícil fazê-lo. Espero, por isso, que Homeland se mantenha no topo da qualidade por muitos mais anos. Mas, para já, veremos se consegue fazê-lo nesta sua segunda temporada.

Análise à segunda temporada

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Grey's Anatomy/Anatomia de Grey


Não posso dizer que esta seja uma das minhas séries preferidas. Acompanho-a há vários anos e temos sempre tido, digamos, uma relação de amor-ódio. Penso que é aquilo a que se chama um guilty pleasure. Ainda tentei deixar de a acompanhar mas, uma vez que está constantemente em reposição na FOX Life, julgo que já vi praticamente todos os episódios emitidos pelo menos uma vez.

Apesar do nosso relacionamento complicado, a verdade é que Anatomia de Grey até tem sido uma fonte de inspiração para a minha escrita, sobretudo na parte mais emotiva dos meus livros. Sim, porque a série já abordou praticamente todos os tipos de relacionamentos entre humanos. Destaque para os relacionamentos amorosos, é claro - uma das críticas que já ouvi a esta série é a de que já toda a gente andou com toda a gente - mas também os fraternais, os familiares, etc. Explora também alguns conceitos relacionados com a vida real, que, em muitos dos caos, se entrelaçam com os problemas dos doentes - embora, nalguns casos, de forma algo rebuscada -  que fazem refletir e que me são francamente úteis na escrita. 


Um desses conceitos é, na minha opinião, o pilar na qual toda a série assenta: o debate carreira versus vida pessoal. Praticamente todas as variantes desta dualidade, todas as perspetivas são exploradas na série. Se os cirurgiões fazem aquilo por mera ambição pessoal ou para salvar vidas. O convívio da competição com a cooperação na relação entre colegas, estejam estes no mesmo nível ou em diferentes estratos hierárquicos. O facto de os grandes cirurgiões serem vistos pelos pares como heróis, apesar de os entres queridos não conseguirem ignorar a indiferença e mesmo o desprezo com que são tratados. A escolha entre fazer aquilo que se ama ou estar com a pessoa que se ama. Assemelhando-se um pouco ao debate de ficções como "Sobrenatural", o desejo de se marcar a diferença, de fazer algo com significado, de se ser extraordinário, contrastando com o desejo de ter uma vida relativamente mais fácil, uma família, um lar para onde regressar todas as noites.

Outro aspeto que me cativa na série é a parte da Medicina, pois frequento um curso de saúde. É claro que, à semelhança do que acontece um pouco noutras séries médicas, nem tudo é cem por cento realista. Algo que igualmente não me parece realista é o facto de os alegados melhores cirurgiões do país, ou mesmo do Mundo, estarem concentrados no mesmo hospital. Além de que, em Anatomia de Grey, quando tudo parece perdido para o doente, há sempre alguém com uma terapia inovadora - na vida real, sobretudo no nosso País, duvido que uma ideia dessas fosse exequível ou que sequer coubesse no orçamento de um hospital.


O problema da série é ter momentos em que se torna demasiado melodramática, como se quisesse, a todo o custo, arrancar lágrimas às pedras da calçada. A mim, pelo menos, tirando uns quatro ou cinco casos, tais cenas apenas me provocam impaciência pela lamechice toda. Também não ajuda o facto de muitas das personagens serem completa e irritantemente disfuncionais, negando até à loucura aquilo que sentem, chegando ao ponto de se rirem quando deviam chorar. Como uma das personagens, das mais secundárias, disse uma vez, não passam de "crianças com bisturis".

Além disso, enquanto algumas das reflexões em voz off no início e no fim dos episódios e certos diálogos das personagens podem, como exemplifiquei acima, fazer-nos pensar, não são raras as vezes em que se dizem banalidades disfarçadas de pensamentos profundos.


No entanto, quando não estão todos a chorar, a série tem momentos bem divertidos. Isto deve-se, sobretudo, ao contraste entre as diferentes personalidades. Tenho um punhado de personagens preferidas mas a minha favorita é a Dra. Bailey. No início, é-nos apresentada como a mentora rígida e autoritária dos internos recém-chegados ao hospital. No entanto, acaba por equilibrar bem o seu carácter autoritário com a afeição que nutre pelos doentes, pelos colegas e, em particular, o amor maternal que nutre pelos seus internos, até mesmo depois de eles concluírem o internato.


A série já teve oito temporadas, umas melhores do que outras. A mais recente foi, até ao momento, a pior. Não nos podemos queixar por aí além quando uma série começa a dar sinais de desgaste ao sétimo ou oitavo ano de vida - outras séries têm apresentado tais sinais bem mais cedo. De facto, Anatomia de Grey chegou a um ponto em que já não traz praticamente nada que já não tenha exibido antes. As frágeis tentativas de dar uma lufada de ar fresco à coisa - por exemplo, o episódio do "What If?/E se?" - não resultam. Perdi também a conta às vezes que revirei os olhos nesta temporada.


Um dos problemas desta temporada é o facto de alguns dos casais estarem na fase do "viveram felizes para sempre". Ora, a ficção assenta, não digo na infelicidade, mas nos problemas das personagens, nos obstáculos com que se deparam, nos desejos delas. Nota-se que os argumentistas da série andam com dificuldades em arranjar problemas a, por exemplo, Callie e Arizona. Na minha opinião, o casal lésbico já deu o que tinha a dar, já teve a sua atribulada história de amor com final feliz. Eu já as teria despachado. 


Outro caso desses, ainda que de maneira diferente, é o casal-centro de Anatomia de Grey, Meredith e Derek. Aqui, as fraquezas da história já vêm desde a temporada anterior: a história do ensaio clínico como tentativa de curar uma doença neurodegenerativa que termina quando um dos médicos o sabota a favor de um ente querido já tinha sido vista em House; a infertilidade de Meredith, então, é um tema batidíssimo em séries. Durante a primeira metade da oitava temporada, enrolaram a história da adoção até a custódia da órfã que querem adotar lhes cair do céu. E mesmo os problemas no casamento se resolveram sem grandes complicações.


Depois, existem linhas narrativas ainda mais fracas, nesta temporada. O caso de Cristina e Owen é um deles. Já se notava no fim da época anterior que o casamento estava condenado pelo simples facto de ele querer filhos, ela não e nenhum de ambos parecer disposto a ceder nesta matéria. A maior parte dos casais - incluindo um na mesma série - já se teria separado após a constatação deste facto. No entanto, a história de eles foi enrolada até ao infinito ao longo da temporada inteira. A partir de certa altura, sobretudo depois de ele a ter traído, ficava com vontade de lhes gritar: "Divorciem-se de uma vez, caramba!". O casamento não me parece ter salvação, tendo em conta tanto a discordância no que toca a filhos como a traição dele - há quem se divorcie por apenas um destes requisitos ou por ainda menos. No entanto, a oitava temporada terminou e nem sequer há certezas sobre se vai haver divórcio ou não. O que me parece ridículo.


Outro arco narrativo que também deixou bastante a desejar foi a relação de Lexie e Mark. O romance entre ambos tem estado on e off desde a sexta temporada, com ambos sempre incertos dos seus sentimentos, mesmo quando andam com outras pessoas, eternamente separados pela diferença de idades, por se encontrarem em fases de vida diferentes, por ele querer constituir família e ela não - olha, afinal são dois casais... Na oitava temporada, então, enrolaram ainda mais a história. Neste último ano, Lexie pouco mais fez do que suspirar por Mark, incapaz de se decidir se o quer ou não.

Acabou por não ser muito surpreendente a sua morte, no encerramento da temporada. Era óbvio que os argumentistas já não sabiam o que fazer com a personagem, portanto, adotaram a solução mais fácil. A morte de Lexie é um cliché em todos os aspetos - é claro que Mark só se lembra que quer uma vida com Lexie quando esta está a morrer!

Lexie era uma das personagens mais queridas da série, era uma das minhas preferidas, pela sua graça, pela memória fotográfica, pela teimosia que lhe permitiu estabelecer uma ligação com Meredith, mesmo depois de a meia-irmã ter deixado bem claro que não queria ter nada a ver com ela. Na minha opinião, merecia mais do que ter passado estas últimas duas temporadas fazendo pouco mais que suspirar por Mark.


Com tudo isto, ainda não sei se me darei ao trabalho de acompanhar a próxima temporada. O último episódio termina em suspense com o acidente de avião mas, para ser sincera, as pontas soltas não me interessam por aí além, não estou propriamente ansiosa por ver o que acontece aos sobreviventes. Isto porque duvido que aconteça algo que não tenha já sido visto em Anatomia de Grey: já antes se lidou com eventos traumáticos; já antes se lidou com a morte de colegas, amigos, parentes ou amantes; já antes se lidou com lesões comprometedoras das capacidades cirúrgicas. Só se, eventualmente, fizessem alterações no elenco é que a série ganharia fôlego. E mesmo assim... Na minha opinião, devia começar a pensar-se em encerrar a série. Já deu o que tinha a dar sobre o tema vida e medicina/cirurgia, duvido que, a partir de agora, surja algo de novo. 

A acontecer isso em breve, não terei grandes saudades de Anatomia de Grey. Pelo menos, não tantas como de outras séries, como Friends e House - como já mencionei acima, nunca coloquei Anatomia de Grey entre as minhas preferidas. No entanto, não duvido que sentirei uma certa nostalgia por mais uma boa série, à sua maneira, daquelas que já duram há uns anos, ter terminado.

domingo, 26 de agosto de 2012

Nómada / The Host


Melanie Stryder recusa-se a desaparecer.
O nosso Mundo foi invadido por um inimigo invisível. Os Humanos estão a ser transformados em hospedeiros destes invasores, com as suas mentes expurgadas, enquanto o corpo permanece igual.
Quando Melanie, um dos poucos Humanos "indomáveis", é capturada, ela tem a certeza de que chegou o fim. Nómada, a Alma invasora a quem o corpo de Melanie é entregue, foi avisada sobre o desafio de viver no interior de um humano: emoções avassaladoras, recordações demasiado presentes. Mas existe uma dificuldade com que Nómada não conta: o anterior dono do corpo combate a posse da sua mente.
Nómada esquadrinha os pensamentos de Melanie, na esperança de descobrir o paradeiro da resistência humana. Melanie inunda-lhe a mente com visões do homem por quem está apaixonada – Jared, um sobrevivente humano que vive na clandestinidade. Incapaz de se libertar dos desejos do seu corpo, Nómada começa a sentir-se atraída pelo homem que tem por missão delatar. No momento em que um inimigo comum transforma Nómada e Melanie em aliadas involuntárias, as duas lançam-se numa busca perigosa e desconhecida do homem que amam.
Este é um livro sobre extraterrestres escrito pela autora que é mais conhecida por escrever sobre vampiros. Gosto mais deste livro do que dos da "saga Twillight/Crepúsculo", também conhecida como saga Luz e Escuridão, em parte por causa de O Sobrevivente, que também é um livro sobre extraterrestres, mas não só.

Quando li "Nómada" pela primeira vez, o conceito de Alma, do alien que toma posse do corpo e da mente de um ser humano, recorda-me Sobrenatural, os anjos e os demónios, que usam igualmente humanos como marionetas. No entanto, após leitura mais cuidada, percebi que as Almas não são apenas, como uma das personagens refere, "a mão que manipula a marioneta", eles, de certa forma, acabam por adquirir a personalidade dos humanos que controlam. Nesse aspeto, Stephenie Meyer ganha pontos pelo conceito e, sobretudo, por não ter retratado as Almas como seres cruéis, que escravizam os humanos por motivos egoístas, mas sim como criaturas que acreditam sinceramente estar a fazer o correto. Na parte final do livro, é dado a entender que é possível um mundo em que ambas as raças possam viver em harmonia.

Um dos pontos fortes do livro é precisamente o facto de induzir reflexões sobre o amor e a natureza humana, de nos levar a concluir que nada é, pura e simplesmente, preto ou branco. E o facto de apresentar a Humanidade sob o ponto de vista de um alien é particularmente interessante para mim, que escrevo livros sobre extraterrestres.

Ora, o problema de Stephenie Meyer é ser capaz de criar conceitos interessantes à sua maneira, mas ser incapaz de criar enredos que lhes façam justiça. Esta deficiência é clara na saga Crepúsculo e também em "Nómada".

Ainda que, como referi acima, as Almas sejam retratadas como pacíficas, de não serem o inimigo cruel que, se calhar, outros autores criariam, julgo que estas premissas pediam uma história com uma tensão diferente, com mais ação. Em vez disso, o livro acaba por se centrar no triângulo/quadrado amoroso Melanie-Nómada-Jared-Ian. Para além de já ser um cliché em Meyer, que já teve um triângulo-amoroso-que-não-chega-a-sê-lo-pois-toda-a-gente-sabe-logo-com-quem-é-que-ela-fica noutros livros, não é assim tão interessante e acaba por conduzir a umas quantas situações um bocado parvas, mesmo quando inseridas no contexto.

A própria personagem principal Nómada - também conhecida como Noa - assemelha-se a Bella Swan de Crepúsculo. Na timidez, na baixa auto-estima, na - passe a expressão - choraminguisse. Enerva-me um bocado a maneira como ambas as personagens se fazem de mártires, se sentem culpadas por tudo o que de mau acontece à volta delas quando, na verdade, não têm capacidade de fazer mal a uma mosca. Nómada só não se torna tão patética como Bella pois partilha a mente com Melanie, uma humana completamente diferente, lutadora, que lhe empresta alguma da sua coragem e astúcia.

Além de que Stephenie Meyer parece convencida de que o suicídio é prova de amor. As suas personagens não parecem ter personalidade suficiente para ultrapassarem o luto derivado à perda dos respetivos apaixonados, nem mesmo quando até têm família e amigos que, em teoria, lhes dariam razão para viver. É claro que existe o muito apregoado em Harry Potter caso daquele que sacrifica a sua própria vida para salvar a vida de outros - mas eu, por vezes, questiono a bondade de tal ato. No caso de Nómada, ela até tem a hipótese de viver mas recusa-se a isso. Não acho que seja amor condenar os seres amados ao luto, à culpa, ao ódio a si mesmos por a sua vida ter custado a vida de um ente querido. Pelo menos não nestas circunstâncias.

Mesmo assim, apesar de tudo isso, considero "Nómada" um bom livro, à sua maneira, sobretudo pelo conceito, por nos fazer sentirmo-nos gratos por (ainda) termos um planeta tão belo como o nosso e por nos fazer refletir sobre a condição humana - algo que a saga Crepúsculo não faz. Por isso, recomendo a sua leitura e aguardo a exibição da versão cinematográfica do livro que, segundo o que consta, chega aos cinemas no próximo ano.

O Ciclo da Herança

AVISO: Esta entrada inclui informações relevantes sobre o enredo dos livros pelo que só é aconselhável lê-lo caso já os tenha lido.


Esta série de livros foi-me apresentada pelo meu irmão há já uma boa meia dúzia de anos ou mais. Julgo que foi em 2004, 2005, que ele comprou "Eragon", o primeiro livro e "Eldest" depois de ser editado. No entanto, não foi ele quem me convenceu a ler os livros. Foi Avril Lavigne. Desculpa, mano...


O livro "Eragon" foi adaptado ao cinema e o resultado esteve em exibição em finais de 2006. A cantora canadiana - que se encontrava naquela altura a gravar o seu terceiro álbum de originais - foi convidada para compor e interpretar um tema para o filme. Avril chegou a criar duas ou três músicas para o efeito - no ano passado chegou a aparecer na Internet uma faixa chamada Won't Let You Go que, pelas semelhanças com o tema utilizado nos créditos no filme, se suspeita ter sido composta com o mesmo objetivo. Por alguma razão, Keep Holding On foi a escolhida.

Keep Holding On é mais conhecida como uma balada sobre amizade mas, para mim, é mais do que isso. Mais do que sobre apenas companheirismo, penso que a música fala sobretudo sobre união, transmissão de coragem, resistência perante adversidades, tudo isto com um cheirinho a épico. Daí que a mensagem se aplique, não apenas o filme "Eragon" e ao próprio Ciclo da Herança, mas também a outras obras de ficção: Harry Potter, o Senhor dos Anéis, mais recentemente os Jogos da Fome e, sobretudo, às histórias que eu escrevia na altura, que serviram de base a "O Sobrevivente". Daí que depressa a faixa se tenha tornado especial para mim, que tenha incluído a citação "With you by my side I will fight and defend". Esse carácter universal da música é, na minha opinião, o seu maior ponto forte.


Quando vi o filme pela primeira vez não tinha, portanto, ainda lido o livro em que se baseara. Por isso, até não desgostei, se bem que se assemelhasse a outras produções inspiradas em O Senhor dos Anéis, como por exemplo As Crónicas de Nárnia. Contudo, lembro-me de o meu irmão me segredar, não deviam ter ainda passado quinze minutos desde o início do filme, que este não prestava.

E, realmente, quando se compara o livro com o filme, é óbvio que foi uma adaptação muito mal feita. Simplificaram demasiado a história de tal forma que inviabilizaram logo a adaptação do segundo livro. É uma pena que tal tenha acontecido. Mas falarei melhor sobre isso mais à frente.


Quando Eragon encontra uma pedra azul polida na floresta, acredita que poderá ser uma descoberta bendita para um simples rapaz do campo: talvez sirva para comprar carne para manter a família durante o Inverno. Mas quando descobre que a pedra transporta uma cria de dragão, Eragon depressa se apercebe de que está perante um legado tão antigo como o próprio Império.

De um dia para o outro, a sua vida muda radicalmente, e ele é atirado para um perigoso mundo novo de destino, de magia e de poder. Empunhando apenas uma espada legendária e levando os conselhos dum velho contador de histórias como guia, Eragon e o jovem dragão terão de se aventurar por terras perigosas e enfrentar inimigos obscuros, dum Império governado por um rei cuja maldade não conhece fronteiras.Conseguirá Eragon alcançar a glória dos lendários heróis da Ordem dos Cavaleiros do Dragão? O destino do Império pode estar nas suas mãos...
Christopher Paolini planeou a série quando tinha quinze anos, se não me engano. Inicialmente, tencionava criar uma trilogia mas, quando começou a trabalhar no terceiro volume, decidiu esticar a série para um ciclo de quatro livros. Grande fã de fantasia, a sua ideia inicial era criar uma história que reunisse os seus elementos preferidos sem, contudo, pretensões de ser publicada. É assim que muitos escritores jovens dão os seus primeiros passos. Eu, por exemplo, quando era pequena escrevia histórias com o Bugs Bunny e/ou o Rato Mickey e afins e, mais tarde, com o Pokémon. Meros exercícios de escrita mas, sem eles, dificilmente teria escrito livros "a sério". No entanto, Paolini acabou por decidir publicar "Eragon", o primeiro livro da série. A obra acabou por ser um sucesso a nível planetário, mesmo utilizando conceitos emprestados.

"Eragon" é capaz de ser, dos quatro, o livro que se lê mais facilmente, por ter mais ação, por quase todo o livro contribuir para o avanço da história, enquanto os outros três possuem frequentes passagens mais "paradas", digamos. A tensão é maior por o protagonista se encontrar sobre ameaça quase permanente, por, durante uma boa parte do enredo, não perceber o que acontece em seu redor, por ainda ser relativamente imaturo, sobretudo nas capacidades que começa a desenvolver, obrigando, como uma das personagens chega a assinalar "por obrigar toda a gente a protegê-lo".



A narrativa de Eldest começa três dias após a cruel batalha travada por Eragon para libertar o Império das forças do mal. Agora, o Cavaleiro de Dragões se vê envolvido em novas e emocionantes aventuras. Em busca de um tal Togira Ikonoka – "O Imperfeito que é Perfeito" –, que supostamente possui as respostas para todas as suas perguntas, Eragon parte, junto com Saphira, o dragão azul que o acompanha desde o início da aventura, para Ellesméra, a terra onde vivem os elfos. Lá, eles pretendem aprender os segredos da magia, da esgrima e aperfeiçoar o seu domínio da língua antiga.

Em sua jornada, que também é uma caminhada para a maturidade, Eragon conhece seres e lugares diferentes e se apaixona por Arya, filha da rainha Islanzdaí. Mas também descobre que nem tudo é o que parece. Conflitos e traições aguardam o jovem herói e por um longo tempo ele não tem certeza em quem pode confiar. Os desafios de Eragon são entremeados pela luta de Roran, cuja importância aumentou em relação ao primeiro livro, formando narrativas paralelas que se juntam no fim com um único objetivo: derrotar o grande rei.

Mais maduro e preparado, Eragon consegue afastar o exército inimigo por algum tempo. A vitória definitiva, no entanto, só acontece depois da revelação de um grande segredo, que fará com que Eragon e Roran se unam novamente e decidam partir para uma nova e perigosa missão, que parece ser o ponto de partida do terceiro livro: salvar a noiva de Roran, Katrina, dos Ra’zac.
Enquanto "Eragon" se focaliza exclusivamente na personagem principal, homónima, em "Eldest", a história é-nos contada também na perspetiva de Roran - primo de Eragon - e Nasuada - neste livro, eleita líder dos Varden, uma organização de resistência ao regime totalitário de Galbatorix. E ainda bem que assim é, uma vez que a situação de Eragon é bem menos interessante do que no primeiro livro, agora que já não se encontra em perseguição/fuga quase permanente. A tensão, neste livro, acaba por se centrar em Roran, perseguido pelo Império sem saber porquê, acabando por ser obrigado a fugir, juntamente com a população da sua aldeia natal, de modo a salvar as vidas deles todos, e a resgatar Katrina, a sua noiva.

No entanto, aquelas passagens mais monótonas de que falei acima, mais irrelevantes do ponto de vista da ação, não deixam de ser interessantes pelas reflexões que a própria personagem principal é induzida a fazer, traçando paralelismos com a realidade. Abordarei este assunto mais exaustivamente mais à frente nesta entrada.


Em Brisingr, Eragon e seu dragão, Saphira, conseguiram sobreviver à batalha colossal na Campina Ardente contra os guerreiros do Império. No entanto, Cavaleiro e dragão ainda terão de se deparar com inúmeros desafios. Eragon se vê envolvido numa série de promessas que talvez não consiga cumprir, como o juramento a seu primo, Roran, de ajudá-lo a resgatar sua amada Katrina das garras de Galbatorix. Todavia, Eragon deve lealdade a outros também. Os Varden precisam desesperadamente de sua habilidade e força, assim como elfos e anões. Com a crescente inquietação dos rebeldes e a iminência da batalha, Eragon terá de fazer escolhas que o levarão a atravessar o Império, viajando muito além. Escolhas que poderão submetê-lo a sacrifícios inimagináveis? Conseguirá o jovem unir as forças rebeldes e derrotar o Império?
Este é, na minha opinião, o livro mais fraco do ciclo, por ser aquele que menos avança na ação, por ter demasiadas passagens monótonas - e nem todas têm a contrapartida de induzirem reflexões, algumas parecem estar lá apenas para encher chouriços. Tem os seus momentos, sem dúvida - o momento em que Eragon descobre a verdadeira identidade do seu pai é, na minha opinião, o ponto alto de Brisingr - mas o livro não tem grande força por si só, limita-se a abrir caminho para o último livro, a definir o cenário em que este decorrerá, a fornecer armas a Eragon para o confronto final - armas tanto no sentido literal como no figurativo: segredos, alianças, etc. Nesse aspeto, assemelha-se a Harry Potter e o Príncipe Misterioso, até porque também Brisingr termina com a morte de um mentor. Até Eclipse, da saga Twillight/Crepúsculo ou Luz e Escuridão, se assemelha em parte pois também vai dando pistas - ainda que de uma forma mais subtil - que remetem para o livro final.

Isto deve até ser uma maldição relacionada com penúltimos livros pois encontro-me, neste momento, a trabalhar no terceiro e penúltimo livro da minha série e estou a ter grandes dificuldades. Enquanto os dois primeiros livros me saíram naturalmente, ficando o primeiro rascunho pronto em cerca de seis ou sete meses, ando encalhada neste há quase um ano. E não acredito na máxima que diz que o que é escrito sem esforço é lido sem gosto, antes pelo contrário. Pelo menos no meu caso, com as suas exceções, os melhores textos são aqueles que se escrevem a si mesmos. Uma parte de mim deseja, pura e simplesmente, saltar para o livro final - o que não é possível. Em todo o caso, pode ser que o resultado final se aproveite. Vou fazer por isso, pelo menos.



Há pouco tempo atrás, Eragon – Aniquilador de Espectros, Cavaleiro de Dragão – não era mais que um pobre rapaz fazendeiro, e o seu dragão, Saphira, era apenas uma pedra azul na floresta. Agora, o destino de toda uma sociedade pesa sobre os seus ombros.


Longos meses de treinos e batalhas trouxeram esperança e vitórias, bem como perdas de partir o coração. Ainda assim, a derradeira batalha aguarda-os, onde terão de confrontar Galbatorix. E, quando o fizerem, têm de ser suficientemente fortes para o derrotar. São os únicos que o podem conseguir. Não existem segundas tentativas.


O Cavaleiro e o seu Dragão chegaram até onde ninguém acreditava ser possível. Mas serão capazes de vencer o rei tirano e restaurar a justiça em Alagaësia? Se sim, a que custo?
Os primeiros capítulos deste livro continuam, um pouco, a linha de Brisingr: relativos poucos avanços na história, cimentação de alianças, preparação do herói para o confronto final. E mesmo ultrapassada essa parte, o livro demora a arrancar. Só arranca verdadeiramente após o rapto de Nasuada. A partir daí o livro ganha maior interesse à medida que nos são revelados os segredos finais - segredos esses que me fizeram arquejar de espanto quando os li pela primeira vez - conhecemos, finalmente, Galbatorix no cativeiro de Nasuada - até ao momento, Galbatorix fora uma personagem ausente, o máximo que havíamos tido direito fora ouvir a sua voz à distância no final de Brisingr - onde também assistimos à tortura, tanto física como mental da jovem líder dos Varden e ao nascimento de uma ligação entre esta  Murtagh - ligação esta que se tornará crucial - e assistimos ao longamente antecipado confronto final, herói versus vilão.

Nesta última parte, faz-me alguma confusão a forma como Galbatorix está ciente de todas as armas dos heróis, incluindo as "arranjadas" à última hora. Não ficou bem explicado. Não sei se foi uma ponta deixada propositadamente por atar ou se foi um deslize...

O epílogo da história ainda se estende por uns quantos capítulos. Pessoalmente, tenho pena de que o terceiro ovo de dragão só tenha chocado já depois de Galbatorix ter sido derrotado, mas compreendo que tal não fosse possível...


Muitos esperavam que, no final, como em todas as histórias, o herói conquistasse a donzela. O próprio autor admitiu que era esse o plano inicial. No entanto, à medida que a história ia prosseguindo e a personagem se ia desenvolvendo, Paolini concluiu que não seria coerente com a sua personalidade se Arya "caísse nos braços" de Eragon.

Eu tive pena. Gosto da dinâmica entre Eragon e Arya, de como ela é, em simultâneo, mentora e companheira de luta do jovem Cavaleiro, ao invés de ser apenas uma donzela em apuros - ou vice-versa. Mas compreendo. No momento em que Herança acaba, a diferença de idades e a fidelidade de Arya a um amante morto são grandes barreiras a um eventual romance entre ela e Eragon. No entanto, a meu ver, uma vez que ambos são imortais e Cavaleiros, com o tempo, tais obstáculos deixarão de sê-lo.

É outra das características de Herança: por um lado, muitas pontas soltas são atadas - algumas até de forma algo forçada - outros arcos narrativos são deixados em aberto. Como a personagem Angela, uma das mais interessantes e misteriosas das quatro obras. Paolini deu a entender que atar essas pontas em futuras obras - mas num futuro ainda distante.


A série foi batizada Ciclo da Herança pois, na sua essência, a história é sobre passagem do testemunho da geração mais velha para a mais nova, sobretudo no que toca à luta contra a tirania de Galbatorix. Ao longo da série, praticamente todos os progenitores, todos os mentores - que ainda não estiverem mortos no início de "Eragon" - vão morrendo um a um, tendo o seu trabalho de ser continuado pelos filhos e/ou alunos, pelos herdeiros.

Um dos aspetos mais interessantes do Ciclo é, na minha opinião, a dinâmica daquelas que considero as três personagens principais: Eragon, o seu meio-irmão Murtagh e o seu primo Roran. Eragon e Roran foram criados como irmãos, no mesmo meio. No entanto, o primeiro torna-se Cavaleiro do Dragão, enquanto o outro mantém-se humano. Não que isso lhe constitua um entrave, ele acaba por desempenhar um importante papel na luta contra o Império ao tirar o maior partido possível das armas que possui. Ele e Eragon têm, portanto, vidas divergentes. Por sua vez, Eragon e Murtagh têm vidas convergentes. O primeiro cresce num meio completamente diferente daquele em que o irmão cresce: sempre consciente de que é filho do falecido Morzan, um antigo aliado de Galbatorix e um dos homens mais odiados do Império. No entanto, os dois irmãos acabam por ter vários aspetos em comum e acabam, ambos, por se tornarem Cavaleiros.

Este conceito de personagens ligadas umas às outras desta forma, por um lado tão parecidas, por outro lado tão diferentes, faz com que o Ciclo se assemelhe a Harry Potter. O trio Harry-Voldemort-Snape acaba por ser parecido com o trio Eragon-Roran-Murtagh.

Murtagh assemelha-se a Snape no sentido em que ambas as personagens são ambíguas, despertam sentimentos contraditórios. Isto é mais claro no caso de Murtagh já que, no caso de Snape, a maneira como ele se relaciona com Harry dificulta a perceção do seu lado bom. E, no final, o amor leva-os à redenção, desempenhando um papel fundamental na derrota do mau da fita.

Acho tão interessante esta dinâmica que resolvi reproduzi-la também nos meus livros. Aparecerá a partir do terceiro.


Já que se aborda o assunto, vale a pena mencionar as semelhanças entre o Ciclo da Herança e Harry Potter. São várias e provavelmente tratam-se de coincidências. Ambas as séries se centram num órfão "escolhido" para derrotar um inimigo tirano, cujo poder reside, em parte, em certos objetos - os conceitos de Horcruxes e Eldunarí são parecidos embora já tenha ouvido dizer que o conceito de objetos de poder não é novo.

Por fim - e considero este um dos maiores pontos fortes de ambas as séries - o facto de, apesar de ambas serem séries de fantasia, ambas apresentarem analogias para a "vida real", induzindo reflexões. No Ciclo da Herança, este carácter está mais evidente em Eldest e Brisingr e os temas abordados são o racismo, a desconfiança perante aquilo é diferente, a ditadura, a política, a própria natureza humana, deixando, no fim, uma mensagem de tolerância, de empatia, de que "o importante não é aquilo que se nasce mas aquilo em que se torna", que "são as nossas escolhas e não as nossas qualidades que determinam quem somos".

E, mais uma vez, espero conseguir o mesmo com os meus livros.


Diria que a minha personagem preferida é Nasuada. Ela é filha de Ajihad, líder dos Varden, acabando por herdar a liderança do grupo de resistência. Quando Nasuada foi nomeada líder pelo Conselho de Anciãos, estes esperavam que a jovem funcionasse como uma marioneta, que eles fossem os verdadeiros detentores do poder. No entanto, Nasuada cedo deixa bem claro que é capaz de tomar decisões pelos Varden, mostrando ser uma líder carismática, capaz de conquistar a lealdade por parte dos seus súbitos.

Nasuada destaca-se no Ciclo da Herança precisamente pela sua personalidade forte, pela forma como gere a resistência ao Império. Apesar de fazer questão de lutar ao lado dos soldados, fugindo à sua condição de mulher, o seu maior papel é nos bastidores das batalhas, fazendo a gestão pessoal de guerreiros como Eragon e Roran, transmitindo coragem e determinação ao seu povo. Durante Eldest e Brisingr, Nasuada é, no fundo, a personificação dos Varden - tanto as suas motivações como preocupações são as motivações e as preocupações do grupo rebelde. É a figura política perfeita, dedicada ao seu povo, como não existe na vida real. Nesses dois livros é difícil destrinçar Nasuada, a pessoa, de Nasuada, a líder os Varden.

O seu rapto em "Herança" torna-se interessante pois, pela primeira vez vemos Nasuada "liberta" da responsabilidade da liderança dos Varden, sem outras motivações ou preocupações que não a própria sobrevivência, a resitência à tortura por parte de Galbatorix. É obviamente de louvar a sua coragem e perseverança perante as condições em que decorre o seu cativeiro e interessante assistir ao nascimento do "romance" entre ela e Murtgah que, como já foi referido várias vezes nesta entrada, consegue alterar as motivações do jovem Cavaleiro conduzindo-o à redenção.

Depois da morte de Galbatorix, a sua nomeação para Rainha surge de uma forma natural. Eu, pelo menos, estava à espera. Segundo o plano inicial, seria Roran a assumir o trono. No entanto, à semelhança do que tinha acontecido com Arya, à medida que a personagem se foi desenvolvendo, tornou-se claro que tudo o que Roran deseja é uma vida pacífica, em Carvahal, junto da mulher e dos filhos que eventualmente terá. De resto, notam-se algumas semelhanças nas personalidades de Nasuada e Roran: também ele é devotado ao seu povo - no caso dele, a aldeia de Carvahal - e revela ter capacidade de liderança, de incitar os outros para a luta, pelo que daria igualmente um bom rei, se assim o desejasse.


Com tudo isto, acho lamentável o facto de terem desperdiçado a adaptação ao cinema do Ciclo da Herança. Apesar de não ser completamente original, a série tem, na minha opinião, potencial para ser um fenómeno do calibre de Harry Potter, Crepúsculo e Jogos da Fome.

Talvez fosse necessário para tal apostar forte na vertente romântica da coisa. O Ciclo não tem o triângulo amoroso da praxe mas tem a sua quota-parte de amores contrariados. A história de Eragon e Arya teria de acabar com eles juntos, por muito que isso contrariasse a personalidade da última. O amor entre Roran e Katrina é interessante embora seja a história clássica da donzela cujo pretendente não é aprovado pela família, em particular o pai, e depois da donzela em perigo. O romance mais interessante nesse aspeto acabaria por ser o de Nasuada e Murtagh: uma paixão entre "inimigos" que, ainda por cima, desempenha um importante papel na derrota do mau da fita. Mais uma vez, o final teria de ser alterado pois, no livro, visto que o desfecho de Murtagh fica um pouco em aberto, o potencial romance com Nasuada é igualmente deixado em stand-by.


Em suma, o Ciclo da Herança é uma das minhas séries de livros preferida, é uma referência, é uma fonte de inspiração, pelos motivos que listei exaustivamente - estiquei-me imenso, não foi? Para algo que começou por ser um mero exercício de escrita, considero que foi muito bem construído. Christopher Paolini pode ter aspetos a melhorar mas tem tempo para fazê-lo já que está ainda em início de carreira. E se o seu exercício de escrita é deste calibre, mal posso esperar para ver o que pode ele escrever "a sério".
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